Ainda não conhecíamos a Ouroarte de Vila Nova de Famalicão e já os recortes dourados das imagens da ótica nos tinham apaixonado. O impacto da loja real foi maravilhoso, porque o desenho desta casa é poderoso e intimista ao mesmo tempo, pleno de detalhes carinhosos. A “chuva” de linhas douradas vindas do teto escuro e que inunda o espaço com profundidade e dinamismo, o longo balcão que faz desejar os óculos expostos em traços destacados e as cadeiras confortáveis que convidam a demorar mesmo atrás da vitrine são os polos de atração.
Mas mais importante do que todo o “ouro”, a Ouroarte é gerida por uma família de coração grande e cheio. É aí que está a chave do segredo da longevidade da empresa liderada pelo ótico Vítor Veloso e apoiada pela sua mulher, Paula e pelos filhos Paulo e Adriana.
As grandes empresas trouxeram novos contornos ao retalho da ótica.
Sim, porque produtos mais baratos sempre existiram, mas com qualidade. Algumas destas linhas brancas pecam na falta de qualidade e criam confusão no consumidor. Dou o exemplo das lentes progressivas que têm sempre algumas especificidades que devem ser respeitadas e que em algumas destas lojas anunciam-se a preços demasiado baixos, isto para um produto com alta exigência técnica ao nível das aberrações e da adaptação.
Porém o consumidor esteve “deslumbrado” por estes preços baixos. Considera que hoje já houve um “regresso à calma”?
Sim, mesmo porque o consumidor atual está muito mais informado e reconhece as diferenças. Já tive clientes que perdi e recuperei neste processo. Para além disso, as próprias empresas líderes nas lentes oftálmicas já proporcionam linhas mais económicas para fazer face às linhas brancas, também graças a processos de produção mais evoluídos, mas sem abdicar da qualidade e sem comprometer a saúde visual.
E considerando que sobreviveu à crise, pode afirmar-se com segurança que a sua estratégia está certa.
Eu cresci na crise! E isto aconteceu talvez fruto de mudanças que o mercado da ótica de Famalicão sofreu nessa altura, com novas óticas a instalarem-se. Esse fator fez com que a população viesse procurar estabilidade e segurança em quem já estava a operar há mais anos.
Hoje em dia, e mediante a introdução de novas formas de exposição pelos grandes grupos de retalho, vocês ainda mantêm os vossos óculos longe do toque dos consumidores. Pode ser uma desvantagem?
A nossa tipologia de loja obriga-nos a esta solução, porque é pequena. Nós temos clientes que têm mais “anos de casa” que eu e que trouxeram filhos, netos e amigos e habituaram-se à nossa organização e não se importam. Note que também não temos um local para sentar, e os estudos até dizem que o atendimento sentado favorece a venda e que ao fim de dez minutos em pé o consumidor perde o interesse na compra. A verdade é que temos compradores que estão aqui meia hora de pé, mesmo sendo-lhes dada a possibilidade de se sentarem, e preferem ficar assim. E até lhe pode dizer que muitas vezes as pessoas passam e não entram, porque sabem que têm que nos encarar, embora deixemos sempre quem entra à vontade. Entram nos nossos concorrentes com exposição livre, mexem, saem e acabam por vir aqui comprar! A nossa percentagem de venda é, aliás, mais alta.
E como convenceu os seus filhos a seguir as suas passadas?
Eles é que me convenceram a mim (risos). O Paulo veio, não porque gostava, mas porque queria muito, depois o gosto adquiriu-o, claro. A Adriana formou-se como professora primária, mas também se rendeu ao negócio familiar.
E como se trabalha com tantas óticas à volta, quase porta com porta?
Não criamos problemas entre nós e provavelmente até nos apoiamos. Não devemos estar sozinhos e, ter a concorrência perto até é positivo.