A entrevista com Rui Cruz foi o nosso “grito” de liberdade. Voltámos às conversas, mesmo que separados por mais de 80 quilómetros, sentados frente a frente, voz com voz. Este ótico de Viana do Castelo representou a figura que queríamos eternizar nas nossas páginas dedicadas à ótica. É a hoje a imagem de um negócio de sucesso, tem em si a resiliência representativa das novas gerações do mercado, é paciente e tem um coração enorme. A Óptica Cruz consegue, por tudo isto, ser uma empresa que está a um ano de celebrar 60 anos de trabalho junto da sua comunidade, através da dedicação à causa ótica, aos serviços exímios e à sua massa humana especial e familiar.
Conduza-nos pela longa história da Óptica Cruz à chegada de quase 60 anos de trabalho.
Quase, falta um ano! É realmente um marco. Naturalmente, o mercado da ótica em 1962 era muito pequenino em Portugal. Havia lojas que vendiam armas e óculos. O setor, tal como toda a sociedade portuguesa, realmente evoluiu muito. Mas a nossa história foimuito simples. A minha avó, Marina Cruz, era filha de uma família de ourives de Arcos de Valdevez e o seu pai era importante na área. A minha avó já trabalhava com o meu bisavô desde os 10/12 anos, porém tinha o sono de ser médico. O meu bisavô não deixou e teve que ficar no negócio de família. O meu avô Francisco Cruz apaixonou-se por ela, casaram-se e mudaram-se para Viana do Castelo para se juntarem a um dos irmãos da minha avó que era ourives na região. Isto durou cerca de dez anos e o meu avô integrou-se totalmente na sociedade vianense. Nessa altura, os produtores de ourivesaria começavam a falar-lhe sobre o mercado da ótica e o que se projetava sobre este setor, que depois se veio a confirmar. O meu avô decidiu, por isso, lançar-se ao setor. Durante um mês fez Viana-Porto todos os dias, num período que se demorava duas ou três horas a chegar à Invicta , com a minha avó grávida da filha mais nova, para aprenderem os meandros da oficina. Aprendeu os conceitos básicos, para em agosto de 1962 abrir o seu estabelecimento na rua da Bandeira, em Viana do Castelo. O Francisco Cruz foi dos primeiros a ter uma máquina automática de corte de lentes em Portugal e punha a máquina a trabalhar, mesmo sem trabalho, porque fazia tanto barulho que atraia as pessoas que passavam na rua.(risos)
As gerações mais jovens da ótica são sempre muito observadas com a expectativa de ver se conseguem continuar o trabalho dos antecessores. Sentiu esta pressão de manter o sucesso da Óptica Cruz?
A pressão que houve foi da minha parte, por querer manter o caminho da empresa. As novas gerações são olhadas sim, mas pelo que vão fazer de novo. A minha experiência nos últimos 22 anos dá-me a certeza que, acima de tudo, temos que ter muita humildade. Aquilo que considero ter trazido para a Óptica Cruz foi uma série de valores para, consequentemente, aportar valor ao negócio. Claro que, mais importante é favorecer a comunidade em que estamos inseridos. Só assim podemos garantir o sucesso.
Entrevista completa na Millioneyes 103.