Na primeira edição do novo 2022, destacamos a ótica que se faz com coração. Paula Casanova abriu-nos a “porta” dos negócios e do caminho percorrido, da mesma forma que trabalha todos os dias da sua vida, com ambas paixão e humildade. Na realidade, a Paula nasceu entre óticos e cresceu entre óculos e lentes, no famoso Adão Oculista e com o próprio Adão e Carmelinda, os fundadores desta casa portuense, como padrinhos. Porém, preparou-se para contrariar o negócio de família e seguir “as linhas” da jurisprudência para concretizar o sonho de ser juíza. A vida trocou-lhe os sonhos. Aos 17 anos, o pai ficou cego depois de um acidente. “Ironia do destino”, disse- -nos de olhos brilhantes, mas com uma leveza de quem assumiu uma fatalidade com toda a energia e a transformou num desígnio e num percurso feliz. Perante a mãe que seguiu mundo fora, para tentar encontrar a cura do pai, e três irmãos pequenos, conseguiu superar desafios e enfrentar as responsabilidades da família. Envolveu-se também no processo que levou o pai aos melhores médicos oftalmologistas do país e aos EUA e abraçou o desafio da optometria para seguir com a ótica que o pai tinha em nome próprio.
Nesse percurso aprendeu sobre os olhos e recordou o olho mecânico que o renomado oftalmologista António Travassos desmontou tantas vezes para a conduzir pelo problema do pai e pelo mundo fascinante da visão. Ou seja, Paula Casanova tomou nas mãos um destino que a definiu e sempre com alegria. Não foi logo ali que desistiu de Direito, porque assim foi “escrito”. Ainda ingressou com mérito no curso depois de acabar Optometria, onde conheceu o pai do filho e onde, em definitivo, se estabeleceu como optometrista e mãe. Daí até fundar a sua ótica Premier, primeiro em Espinho e depois no Porto, foi rápido, claro, porque é uma empreendedora e é inquieta. “Desenhou” a sua empresa numa premissa de bondade e espírito positivo e conquistou os mercados com naturalidade. Quem resiste a uma boa conversa e a bons óculos?
É a personificação da expressão “filha da ótica”!
Sou mesmo filha da ótica.Os meus pais trabalhavam no Adão Oculista quando nasci. Aliás o Sr. Adão e a Sra. Carmelinda foram padrinhos de casamento dos meus pais e meus padrinhos de batismo e ainda do meu casamento. E também eu me iniciei na ótica lá. O meu pai era ótico, o meu tio era ótico e tenho mais dois primos optometristas, para além de mim e portanto sou mesmo parte de uma família tradicional do setor (risos), embora eu não estivesse mesmo nada virada para o negócio familiar. A história mais engraçada que recordo contarem-me era a da minha mãe a biselar umas lentes e a minha madrinha a trazer-me para junto dela para ela me dar de mamar.
E foi esse conluio familiar que a absorveu?
Na realidade estava a estudar Direito, nem sequer estava ligada ao setor. Queria seguir jurisprudência e ser juíza. Teve tudo a ver com o meu pai. Digamos que ele abriu a sua própria ótica e, por ironia do destino, teve um acidente de automóvel e ficou invisual. A menina que ia para direito veio para optometria. Era a irmã mais velha de quatro irmãos, todos menores. Tinha 17 anos, a acabar o 12º ano e quase a entrar em Direito, na Católico. Foi um ano em que a minha mãe viajou com frequência para os EUA, porque em Portugal já não havia nada a fazer para lhe devolver a visão. Eu ficava com os meus irmãos e dava assistência à ótica do meu pai em Fiães. Criei os meus irmãos de 10, 11 e 13 anos. Lembro- -me de um natal em que o meu pai foi operado nos EUA e estava previsto voltarem antes das festividades, mas não conseguiram e tivemos que ficar sozinhos. A menina que andava com os códigos civis atrás, passou a andar com a caixa das lentes. Fiz-me à vida e tirei o curso de Optometria e no fim ainda fui fazer Direito à noite. noite. Ingressei entre os primeiros candidatos. Adorava e foi onde conheci o pai do meu filho e engravidei. Todos os meus projetos mudaram. A paixão pela ótica foi maior que a dos códigos civis. O curso ficou a meio, mas por uma boa causa. Acho que ainda vou acabar, por uma questão de cultura geral, mas seguir a atividade não. A nossa justiça é muito má ia ter que alterar os códigos civis (risos). Mas, se calhar, o meu sentido de justiça faz com que faça um trabalho diferenciado na ótica.
Entrevista completa na Millioneyes 107