Nita Gaspar: Uma ótica de amor em pleno Atlântico

Tivemos sorte em descobrir a Nita Gaspar! Uma ótica de coração que desenvolve o seu negócio no meio do Oceano Atlântico, nos Açores. E mesmo com as fronteiras da ilha, mantém-se cidadã do mundo e absorve a realidade que a rodeia na sua faceta mais positiva e brilhante. Embora tivéssemos “um mar” entre nós, conseguimos absorver a energia que Nita produz à velocidade das gargalhadas fáceis e de um sorriso que não se extingue, nem ao som das histórias de superação que nos foi entreabrindo. Tem o amor como base de todas as suas decisões de negócio, por si e pelos outros, e a prova disso está na marca que lançou no seu mais recente projeto, com portas abertas em Ponta Delgada. Love Vision é a materialização de todos os seus anseios na ótica e na vida, com o requinte, a surpresa e a beleza que pautam os seus dias. E como todas as histórias de sucesso, também Nita tem na pele as memórias de dias de muita luta no negócio que era omnipotente no seio da sua família. Desde cedo trabalhou, primeiro em casa porque os pais estavam na loja, e depois entre paredes cheias de óculos onde, por sorte, se descobriu e se tornou plena. Tudo funcionou sempre em prol da ótica na sua juventude, mas também foi aqui que esta empreendedora pôs tudo a funcionar a seu favor.

Como é que a ótica se cruzou com a vida da Nita?

Nasci na ótica (risos). O meu pai começou em 1974, vindo do continente. Ele é de Aveiro e a minha mãe de Viana. O meu pai, Amândio Gaspar, aprendeu o ramo da ótica com o senhor Cruz, da Ótica Cruz, de Viana de Castelo. Depois veio para os Açores e começou com ourivesaria e só depois introduziu a ótica. Quando nasci, as óticas já existiam. Entretanto o meu pai começou a expandir-se e o trabalho era mesmo muito. Só havia duas Fotos: Diogo Rola óticas na Ilha da Terceira na altura! Começou na Praia da Vitória e depois é que veio para Angra do Heroísmo. Eu, já em miúda tinha que ajudar muito. Tratava da casa e tudo o que fosse preciso. Com os meus 16/17 anos, nas férias, vinha para as óticas ajudar e comecei logo a adorar. A relação com a pessoas sempre me estimulou imenso. É inato em mim interagir com os outros. A certa altura decidi que era aquilo que queria fazer. Cheguei a casa para dizer aos meus pais, sabendo que eles queriam que eu fosse para a universidade. Mas enchi-me de coragem e disse-lhes que queria ficar a tomar conta das óticas, queria trabalhar, com 17 anos apenas. Eles nem me responderam. Resoluta deixei os estudos de dia e inscrevi-me na formação à noite e cheguei a casa e informei da mudança e que ia começar a trabalhar. Não queria ir para fora estudar. E assim foi. As coisas começaram a compor-se e hoje conto com uma vida de ótica.

E como conciliou as duas gerações distintas no mesmo negócio tantos anos?

Foi preciso resiliência, muito respeito e sempre tentando chegar a bom porto. O negócio familiar é sempre delicado, aliás os negócios são delicados, mas desta forma envolvem outros fatores. Ou se tem capacidade para lidar com os desafios e desvalorizar o que não é de facto fulcral, passar à frente ou não funciona. Eu fui dinamizando e inovando devagarinho, porque a inovação era sempre algo que fazia um bocado de confusão, com o receio do que as pessoas pensariam. E tínhamos um mercado já bem estabelecido e havia sempre o medo de afastar os clientes com certos produtos e conceitos. É que eu sempre fui de “ir para a frente”. Queria fazer algo diferente e isso nem sempre era visto de forma positiva. A ideia era “ir com calma e ver as pessoas”. Por isso adaptei estas mudanças de forma muito gradual. Às vezes até punha ideias de lado, na esperança de chegar uma oportunidade. Claro que, a determinada altura isto já não era possível e também já não estava a ser correta comigo. Efetivamente tinha que voar e deixar que as coisas acontecessem da forma como as sinto. Foi assim que sempre fiz, em prol, não só de mim, mas pensando no todo e principalmente nos outros. Como sirvo melhor? Como posso surpreender as pessoas? Cativá-las, inovar, mas no bom sentido de ter produtos melhores.

Fale-nos desta Love Vision.

Sempre tive a ideia deste conceito, embora a loja de Angra já siga esta premissa numa dimensão mais pequenina. Queria muito um espaço em que as pessoas entram e não sabem bem se é uma ótica ou uma boutique e se envolva ali numa magia. E consegui, porque quem entra vem para descobrir o que é (risos). É muito bom e tem sido gratificante.

Como vê o futuro da ótica em geral?

É cada vez mais importante surpreender, mas acima de tudo criar relações com as pessoas. Veja que, aqui na ilha somos à volta de 50 a 60 mil habitantes. O meu pai quando aqui chegou só havia uma ótica. Ele foi a segunda! Sou do tempo que abríamos às 9 da manhã já com fila na rua de pessoas à espera para entrar. Não conseguia almoçar e era um movimento louco. Entretanto começaram a aparecer novas óticas e o meu pai assustou-se muito com isso. Mas eu sempre entendi que se nós estávamos cá é porque havia espaço para todos. Ninguém nos vinha tirar o lugar, nem ninguém fazia o nosso trabalho. Entretanto, porque apareceu o atendimento personalizado, eu investi logo nisso para me diferenciar. Ajustei o espaço que ainda tinha e isto aumentou o valor do serviço. O que mexeu verdadeiramente connosco foi a abertura da MultiOpticas. O meu pensamento foi este: até ali tinha todo o tipo de produtos para todos os segmentos. Ninguém vinha à minha loja sem que eu tivesse óculos para essa pessoa. Com esta entrada, sabia que tinha de perder alguns clientes. Tinha que me focar no segmento médio/alto, no qual já tinha investido e trabalhado bem. Foi a decisão certa. Hoje tenho a minha clientela fidelidade. Quanto ao resto, costumo dizer, vender óculos todos podem fazê- -lo, mas há fatores decisivos na conquista dos clientes: a parte humana, que é o que apela mais. Estas pessoas que nos procuram não querem outras lojas, não querem comprar na internet, querem aquilo que proporcionamos.

Entrevista completa na Millioneyes 121