Miguel Caires: a ótica em velocidade

Esta era uma entrevista que ansiávamos há muito: um jovem empreendedor da ótica que colocou um grupo português na luta pelos primeiros lugares de um ranking composto por multinacionais. Numa das suas paragens pela Invicta, conseguimos tempo precioso para explorar um percurso de sucesso, baseado em muito trabalho, numa enorme força, na inquietude, coragem e humildade e numa equipa construída por Miguel Caires.

Líder do, agora considerável, grupo Alberto Oculista, tem uma figura que se impõe, mas na sua voz tranquilizadora e grave entreabrimos caminho pela vida do gestor, do desportista e do homem. Tem a enorme responsabilidade de alinhar os negócios de mais de 100 lojas sob as marcas Alberto Oculista e, mais recentemente, a Opticenter. Aliás, este grupo foi absorvido sob enorme curiosidade dos mercados, não só o da ótica, pela manobra arrojada, mas também pela demonstração de poderio.

Para lá dos negócios Miguel Caires é atleta. O futebol foi o seu “primeiro amor” logo aos dez anos e com a camisola do “seu” Marítimo. Podia ter sido o outro Ronaldo? “Nada disso”, responde seguro. Não tinha o foco e arrepende-se disso. Claro que nunca é tarde para recuperar mágoas e, por isso, na altura de substituir o futebol, escolheu um desporto que exige concentração máxima, olhos bem despertos, forma física e muito equilíbrio. No automobilismo começou por aprender com os melhores, para depois se lançar em nome próprio e com uma carreira em ascensão que o faz arriscar estradas e velocidades em busca dos seus sonhos. Tal como profissionalmente, é na preparação exímia de cada prova que se esgota, mas se completa com alegria. Ainda há muito para ver deste Miguel Caires, ao volante e na empresa. Estamos ansiosos por registar os seus próximos voos!

Como passou de jogador de futebol para os carros?

A minha grande paixão sempre foi o futebol. Tive que desistir aos 37 anos, em 2018, por causa de uma lesão, o que me fez andar umas boas semanas a pensar o que fazer para o substituir. A minha vida é feita de desporto! Ginásio não era bem a “minha praia”, embora hoje o faça cinco vezes por semana. Aliás, só consegui atingir o atual nível de performance com essa disciplina. Em agosto desse mesmo ano fui para as serras ver o rali Vinho Madeira, como sempre, e na passagem de um dos carros fiquei arrepiado. “É isto que vou fazer!” (risos).

E como juntou a equipa para se lançar nessa aventura?

A Alberto Oculista já era patrocinador de uma das duas equipas que habitualmente são vencedoras, à geral, do campeonato da Madeira de ralis. Quando, em 2019, lhes disse “contem comigo este ano”, agradeceram-me pelo patrocínio. Então expliquei-lhes que o que queria era ser piloto (risos), que queria correr com eles num segundo carro. Integrei- me na equipa. Foi um primeiro ano de aprendizagem, de percepção de como funcionava o desporto. No segundo ano voltei a dizer “contem comigo”. Desta vez perguntaram: “como piloto?” “Não, como patrocinador!” (risos). E montei a minha equipa, com todas as aventuras que se seguiram e que me permitiram chegar onde estou hoje. Cada prova que fiz deu-me mais confiança e isso permitiu-me distanciar- -me mais da “concorrência” e obter bons resultados. Reuni tudo o que me pudesse ajudar ao nível físico, mental e mecânico. A preparação é fundamental para se conseguir alcançar bons níveis num desporto que é muito exigente e que requer não apenas velocidade mas também consistência. É algo que transponho para a minha vida profissional, também.

Uma das aventuras que viveu foi um acidente grave.

Sim, numa das etapas de um dos ralis do campeonato, não fiz uma curva e seguimos em frente, eu e o meu copiloto, ribanceira abaixo, numa queda de 80 metros e cinco “mortais”. Inicialmente tive esperança de parar, mas fui perdendo a cada “cambalhota”. A determinada altura percebi que poderia mesmo morrer. Felizmente o carro foi travado por um tronco. Sobrevivemos.

E como se conjuga todos estas facetas numa só pessoa?

Neste momento, temos seis áreas de atividade no grupo e isso foi algo estratégico para nós. Quisemos “arranjar mais cestas para não por os ovos todos na mesma”. Aliás, esta forma de estar foi o que nos fez sair da Madeira! É mais fácil uma ilha afundar que um continente (risos). Queríamos construir um grupo. Ao longo do processo fomos percebendo que, para tal, seria fundamental construir uma equipa. Não há one man show na nossa empresa. Existe, sim, uma equipa coesa e focada em fazer mais e melhor. Essa equipa começou a ser construída há cerca de 15 anos e foi consolidada quando assumi as responsabilidades de liderança das empresas, algures entre 2010 e 2012.

A Opticenter veio alavancar a dimensão do grupo.

Olhamos para a Opticenter como um projeto muito interessante. Ao contrário do que muitos acham, não há nada de desprestigiante num empreendimento com estas caraterísticas. Às vezes na ótica faz-se passar essa mensagem. Aliás, no meu entender, conseguir fazer chegar uma necessidade tão importante como a acuidade visual a todas as pessoas é central. Em dezembro temos um ano de Opticenter, que ainda é pouco, mas pelo que constatámos é uma marca forte e em constante crescimento. E a associação ao João Baião foi o primeiro grande teste nosso no grupo e entusiasmámo-nos com a postura dele e com uma energia que nunca acaba. É muito salutar ver pessoas com energia positiva desta dimensão…o que há mais hoje é o oposto.

Entrevista completa na Millioneyes 117