Masahiro Maruyama
Arte inacabada: um novo twist
Enquanto o design de armações clássicas é simétrico e “perfeitamente completo”, as criações do artista japonês Masahiro Maruyama destacam-se pela assimetria e um sentido de incompleto, criando desenhos evocativos, excêntricos, como nenhum outro…
Como iniciou a carreira no eyewear e de que forma este se tornou na sua paixão?
A minha carreira arrancou em 1996, no Japão. Trabalhei no departamento de design de uma empresa nacional de óculos. Aliás, através desta companhia interagi com algumas das mais famosas marcas internacionais. Foi em 2011 que me lancei na minha própria marca, Masahiromaruyama. Para transformar o meu nome num código, retirei intencionalmente o espaço que separa o nome próprio do apelido. Na realidade uso óculos desde a minha adolescência e nunca me senti satisfeito com os formatos no meu rosto. Ainda por cima, não havia grandes escolhas à minha volta. Faltava eyewear com sentido de moda na minha região e, na altura, ainda não havia lojas online. Então moldei os meus próprios óculos sozinho, para melhorar a forma. É daqui que nasce a paixão: fazer um par de óculos que eu queira mesmo usar. Hoje estou fascinado com o desenho de modelos que tenham um toque humano único. As peças produzidas de maneira massiva são pensadas para a alta procura e os designs tendem a ser cliché. Para a minha marca eu quis que o foco estivesse totalmente no desenvolvimento de algo distinto.
O conceito das armações Masahiromaruyama tem uma natureza única, quando comparado com outras tendências de mercado na indústria e em termos da própria ideologia. Como se desenvolve este trabalho?
Dou prioridade ao nosso conceito de marca: arte inacabada. É como ter uma peça de arte que nós gostássemos que os nossos clientes também tivessem, não só para o uso diário ou como uma declaração de moda, mas também para o seu próprio prazer. A assimetria é uma caraterística essencial no nosso design. Todas as armações Masahiromaruyama têm formas discrepantes, no entanto a diferença nem sempre é perceptível. Eu prefiro uma assimetria modesta, mas única, que não precisa necessariamente de ser vista a dois metros da armação. Trabalho arduamente nestes conceitos e ajuda-me o facto de fazer designs alternativos em óculos.
As caraterísticas excêntricas das armações, tais como as espirais e efeitos fraturados são conquistas incríveis em termos de produção. Foi um processo complexo de gerir e desenvolver?
Os meus projetos não seriam possíveis sem o grande trabalho de artesãos altamente qualificados da cidade de Sabae, no Japão. Foram precisos anos para conhecer as pessoas certas, dotadas das capacidades tradicionais mais sofisticadas na produção de óculos. Para comunicar-lhes o meu objetivo num determinado design e conseguir produtos de excelente qualidade precisámos de muitas horas de discussão. Por vezes, o desenho é desafiador, mas eles despendem muito tempo e esforço nas técnicas usadas para atingirem as nossas armações. Todos os nossos designs são feitos à mão e, por isso mesmo, a quantidade é limitada, o que, por outro lado, nos permite atrevermo-nos mais nos formatos sinuosos com grande precisão.
Quais são os seus momentos preferidos no desenvolvimento do conceito de uma coleção?
São vários. Um deles assenta no momento quando eu recebo a primeira amostra de um novo modelo. Não é tarefa fácil dar “vida” a um design. Depois de passar semanas a fazer ajustes, receber o primeiro protótipo é uma felicidade. Todo as vezes fico impressionado com o trabalho fabuloso que os artesãos alcançam. Posteriormente começamos a realizar novos acertos para refinar o design. Demora mais de meio ano para se concluir o produto final. E este é outro dos meus momentos preferidos, quando ouço um elogio dos compradores em pessoa, nas feiras. Esta alegria e surpresa nos seus rostos é um momento especial. Estes comentários motivam-se sempre para o próximo projeto.
Na mais recente coleção Twist que processos destaca na produção?
Para dobrar uma pequena peça de metal é mais usual usar uma máquina e produzir em largas quantidades numa só produção, porém, este tipo de trabalho não é esteticamente adequado para as nossas armações artesanais. Para fazer as partes em espiral à mão com qualidade exímia tivemos que inventar uma ferramenta própria. Isto permitiu ao artesão dobrar cada parte de metal com precisão, um de cada vez, para que cada modelo tivesse um toque humano especial.
E as reações ao trabalho da marca é distinto mediante o país?
A reação ao meu trabalho é a mesma esteja eu onde estiver. Todos apreciam a originalidade dos nossos designs. Claro que vemos diferentes reações às cores, dependendo do sítio onde estamos. Por exemplo, os franceses tendem a preferir armações douradas, enquanto que no Japão os modelos pretos são muito populares.
O que esperar da Masahiromaruyama em 2019?
Estou ansioso por novas inspirações! Quase todas as gerações têm acesso à internet e pode encontrar-se tudo online. Existem milhões de designs e marcas e a informação é atualizada diariamente. Para ser encontrado nesta torrente de dados eu gostava de manter a produção de inovações com originalidade.
Este artigo foi publicada na revista 20/20 Europe, edição de novembro de 2018, com entrevista feita por Clodagh Norton, Editora chefe.