Descobrimos em Aveiro um jardim dedicado aos óculos. Foi em busca de quem o inventou que descobrimos Margarida Sabino, artista de coração, cidadã do mundo, com olhos cirúrgicos para o pormenor. Deu-nos uma lição sobre o amor pelos óculos e pela missão de os enquadrar na perfeição nos outros, em todas as vertentes de estética e de saúde. Foi a pandemia que fez nascer a vontade de seguir o sonho dos óculos e, para isso, uniu o melhor do seu mundo. Ao lado do marido, Alberto Rondão Sabino, e da filha, Catarina de Jesus, desenhou a fabulosa Jardin des Yeux Optical Boutique. O negócio nasceu em plena revolução sanitária e depressão económica há um ano, mas floresceu ao ritmo da segurança e da energia de Margarida Sabino.
Num período complexo como o que atravessámos, empreenderem um negócio novo é uma aventura. Como decidiram que era tempo de terem a vossa ótica?
Num tempo em que não paramos para dar ao tempo o tempo que ele nos pede, o mundo, que gira de forma sábia, obrigou-nos a parar. Ofereceu-nos espaço para recolhermos sobre nós mesmos e reavaliarmos as nossas vidas. Eu, o meu marido e a minha filha não fomos exceção. No meio de uma pandemia, juntos voltámos para casa, para a nossa casa e para a casa interior de cada um…Nessa reflexão sobre o que realmente queríamos da vida, fomos unânimes no sentido da mudança do rumo. Transversal a essa mudança haviam três fatores decisivos: o desejo de sermos felizes no norte de Portugal, de onde medram as nossas raízes, o desejo de uma cidade cheia de vida, mas fiel à qualidade de vida, fiel ao valor que começamos a dar ao tempo, e algo que tivesse como personagem principal os óculos. Os óculos são para mim uma paixão, a obra perfeita, a obra que gostava de ter sido eu a inventar…Desde os meus quatro anos que vejo o mundo através de óculos. Muitos. De todos os tamanhos e feitios. Perdi a conta aos tantos pares de óculos que me fizeram companhia por esse mundo fora, que viajaram fielmente nas malas que fiz a perder de conta. Quando percebi o potencial de ser feliz rodeada por um objeto que olho com deslumbramento, senti que este era o momento. Com a força, a sensibilidade e a ousadia que reconheço no meu marido e na minha filha, este projeto nasceu. Juntos tínhamos tudo o que era preciso para avançar.
Conte-nos sobre o percurso de cada um dos fundadores, ou melhor, quem eram antes desta nova empresa.
Éramos, e ainda somos, os três, filhos da criatividade. Une-nos um olhar sobre a vida sob os “óculos da imaginação”. A minha filha é artista plástica, o meu marido um visionário na área do marketing, da publicidade e da fotografia, sempre com um olhar diferente sobre tudo o que o rodeia, um homem de pormenor. Eu, uma amante de arte, de decoração, de pintura, da mensagem que passa sabiamente através da imagem. Os três sempre muito irreverentes, ousados e insatisfeitos com o olhar o mundo apenas do rés do chão.
Da experiência que acumulam do mercado, que futuro esperar do retalho da ótica num período em que já se vaticinou o fim?
Entre muitas hipóteses, já se declarou que poderia passar a ser uma espécie de showroom da venda online. Acredito, com alguma tristeza, que o fim espera por quem não ousa enfrentar novos desafios. A possibilidade do conceito de showroom, da venda online, entre outras estratégias de mercado, não limita nem vaticina o fim. Essa é uma ideia que eu entendo estar intimamente ligada a uma herança cultural mais conservadora, à qual tendemos a fazer resistência. A prestação de um serviço de ótica em si, enquanto cuidado de saúde, não tem de existir isolada e encerrada em si mesma para que seja séria e eficaz. Acredito que é precisamente nos serviços de saúde, onde tantas vezes as pessoas nos chegam por obrigação para atender a um bem de primeira necessidade, que se torna urgente desviar a tristeza da descoberta de um limitação física em algo que, afinal, nós conseguimos, não só solucionar, mas também potenciar ao nível da imagem e consequente ganho na elevação da autoestima. Mudar, criar, inventar e transformar são palavras obrigatórias na vida de quem ousou um dia servir.
Entrevista completa na MIllioneyes 105