Jorge Aveiro e a luta pela saúde mental

Como lidam diariamente os profissionais das óticas com a vida profissional? Foi a questão que se levantou na nossa redação depois de Jorge Aveiro, gestor, optometrista e mestre em Saúde Ocupacional nos contactar com os resultados da sua tese de mestrado. É o primeiro trabalho de investigação de sempre que aborda a saúde mental dos óticos e optometristas e que nos faz despertar para uma faceta muito real de uma atividade ligada ao público e à respetiva saúde. E falámos com este estudioso para captar desde logo a sua energia, razão pela qual persegue os seus sonhos e conquista os objetivos que se auto-impõe.

Jorge veio das Forças Armadas e seguiu caminho no curso de Gestão de Empresas e que, por sorte, o levou à ótica. Em poucos anos, este conimbricence percebeu que podia dar uma assinatura distintiva ao setor e fundou a CentrOpticas na sua terra de eleição, a Figueira da Foz. Hoje celebra duas décadas de empresa em nome próprio, mas já com nova licenciatura emOptometria, uma pós-graduação em Terapia Visual e Treino Visual Desportivo e o mestrado que nos atraiu à sua história. É que depois de se envolver na vida de todas as pessoas que ajuda diariamente a ver melhor, Jorge quis mais. Quis aprofundar os conhecimentos na área da saúde e por isso propôs-se ao mestrado, entre médicos, na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra. No fim, acabou por direcionar esforços em direção aos seus próprios companheiros de profissão, questionando-os, estudando-os e ecoando a pressão que sofrem na sua saúde mental nos respetivos locais de trabalho.

Decidiu seguir o desafio de uma professora de psicologia no seu mestrado e fazer um trabalho de investigação único na área da ótica: Riscos psicossociais dos trabalhadores do setor da ótica em Portugal. A pergunta que se impõe é: como está a saúde mental dos óticos portugueses?

Os trabalhadores do setor da ótica ocular apresentam níveis inferiores de risco psicossocial, relativamente a outros setores de atividade comercial, o que revela que, globalmente, este setor parece ser mais seguro para os seus trabalhadores. A excepção recai nos factores psicossociais de saúde geral, stress, burnout, problemas em dormir e sintomas depressivos, em que os valores, sendo significativamente mais baixos, revelam que estas são áreas mais desfavoráveis, que deverão ser mais valorizadas.

Pode especificar este conceito?

Particularizando um pouco, os profissionais do sexo feminino apresentam valores preocupantes em exigências emocionais, insegurança laboral, conflito trabalho/família, confiança horizontal e em todas as sub-escalas de saúde e bem-estar (saúde geral, stress, burnout, problemas em dormir e sintomas depressivos). Este resultado é compatível com os estudos existentes, que mostram que a nível de saúde mental, estes problemas tendem a afetar mais mulheres do que homens e refletem a necessidade de equilíbrio entre as responsabilidades no trabalho e em casa.

De que forma pode ajudar os seus colegas com estas conclusões?

A nível interno, as empresas devem apostar na promoção da saúde mental dos trabalhadores através da construção de locais de trabalho saudáveis, investindo no envolvimento e reconhecimento dos colaboradores, no equilíbrio trabalho-vida pessoal e familiar, em programas de prevenção da saúde e segurança, para prevenir situações de risco para a saúde física e mental, reduzindo os custos com a saúde e a taxa de acidentes e lesões. A nível setorial, é fundamental que as associações desenvolvam parcerias com psicólogos especialistas em saúde ocupacional, que são os profissionais que estão habilitados no estudo e desenvolvimento de respostas às questões de segurança e saúde física e mental em contexto de trabalho. Finalmente, uma palavra para os colegas: devem ser proativos na procura de ajuda, em situações de fragilidade mental. Não devem ter vergonha, medo, ou sentimentos de culpa. Lidar com estas emoções e sensações desagradáveis pode ser difícil, mas é fundamental para uma excelente qualidade de vida.

Entrevista completa na Millioneyes 138