Gonçalo Rodrigues: A força dos recomeços

Pai, empreendedor, sonhador e desportista, são as palavras que resumem o nosso ótico destacado deste mês. Gonçalo Rodrigues abriu-nos os braços para uma história que tem a ótica como pano de fundo, mas que se escreve no inconformismo e na persistência. Estabelecido hoje e por agora em Moscavide, começou no mercado numa altura em que sonhava ser engenheiro mecânico e por influência do irmão mais velho. Cresceu no setor a pulso, desde a fazer limpezas, a trabalhar na oficina e no atendimento ao público, a estudar Gestão, Ortótica e Optometria, passando ainda pela liderança de equipa até ser docente no Instituto de Educação Técnica e na Associação Nacional dos Óticos.

No seus olhos entrevimos a personalidade positiva que cultiva e nem as corridas a horas tardias ou madrugadoras lhe tiram a frescura. À sua volta, um espaço comercial decorado a bom gosto diz muito sobre a forma como encara a profissão e os seus clientes. Adora a interação pessoal e a independência, por isso, a carreira hospitalar na ortótica não o fascinou. Tem uma visão unificadora das atividades que se desenrolam em torno da saúde visual, isto do ponto de vista de quem trabalhou com os especialistas das diferentes áreas.

Em todo o seu caminho na a ótica foi-se fascinando com tudo o que lhe surgiu como desafio e, de fascínio em fascínio, acumulou 25 anos de experiência bem-aventurada.

Considerando que existe algum desconforto ao nível dos líderes das atividades da ortóptica e da optometria, é interessante constatar que o Gonçalo reúne o melhor destes “dois mundos”.

Fiz, de facto, uma pós-graduação em Optometria pela Universidade Europeia de Madrid, porque na altura uma colega disse-me que as receitas dos ortoptistas não iriam ser aceites e que poderíamos ter problemas até mesmo com as seguradoras, pois o nosso ambiente de trabalho eram, primordialmente, as clínicas e hospitais. Então assumi a optometria para garantir a minha independência. Neste momento isso está tudo sanado porque a Associação Portuguesa de Ortoptistas (APOR) criou vinhetas, trabalhou com as entidades com quem tinha que trabalhar para que as nossas prescrições fossem aceites entre outras iniciativas. Eu sou muito meticuloso no que diz respeito a regras e condicionantes. Nunca quereria estar a trabalhar num gabinete e alguém me dizer que o meu lugar é numa clínica ou num hospital. Hoje em dia, essa questão banalizou-se e nos últimos cinco/seis anos o número de ortoptistas a trabalhar em óticas são imensos.

E apesar da decisão de se dedicar à saúde ocular ter sido condicionada que conclusão tira desta longa forma de vida que escolheu?

Fui encontrando aqui coisas que me davam prazer fazer. Comecei com 18 anos numa MultiOpticas no Areeiro. Entretanto fui para a GrandOptical, quando estavam na fase de implementação da marca em Portugal. Foi proposto levar as novas equipas para fazer um estágio em Toulouse, na França. Aí comecei como técnico de ótica e tive a sorte de aprender a fabricar lentes que era algo que não se fazia em Portugal. Cá só executávamos a montagem, mas em Toulouse ensinaram-nos a trabalhar as lentes e foi-me abrindo novas perspetivas. Quando regressei de França abri a loja GrandOptical no Porto e fui trabalhar para o Via Catarina uns três meses. Fiz também a abertura do conceito no Colombo, depois a no Chiado e finalmente saí para abrir a minha primeira ótica em 2002.