Gonçalo Franco: “Não prescindo de ser quem sou em prol das vendas”

A Óptica Franco é um reduto de conforto, arte e luz em plena cidade de Braga. O “rosto” desta casa é transparente e desenvolveu-se com os seus dinamizadores ao longo dos anos. Começou com a sua base fundadora, através de um poderoso e íntegro José Franco, que passou os seus ideais e valores aos três filhos. Hoje é Gonçalo Franco que delineia a vida de uma casa que é um centro fulcral da “ótica livre”.

Dentro deste espaço bem desenhado, pensado para nos “abraçar” num conforto único, desde a música aos detalhes que pontilham a loja de luz e significado, não há a influência do mundo das empresas gigantes que uniformizam grande parte das nossas lojas. Respira-se a criatividade das companhias independentes que “pintam” as paredes com cor, design e tanta paixão. Acima de tudo isto está um encantador e inevitável Gonçalo que nos prende a uma conversa sobre valores, sobre sermos fiéis ao que nos faz felizes e sobre a coragem de seguir um caminho distinto.

Depois de uma experiência académica na Engenharia Mecânica acabou por admitir que não era ali que se sentia realizado. José Franco abriu-lhe as portas do negócio familiar onde entrou e nunca mais saiu. Assim que assumiu a dianteira das decisões enveredou pela passagem progressiva da grandes marcas do mercado para as que são puras expressões de qualidade e design, sem a presunção de um nome só por si. E conseguiu sucesso com uma fórmula audaciosa! Fora da Óptica Franco abraça os prazeres simples da vida com a sua companheira de vida Joana, uma psiquiatra de profissão que é o seu “braço direito e esquerdo” e que o ajuda a apurar as técnicas de observação social, os seus dois filhos e aqueles amigos de infância que sempre estiveram presentes.

O Gonçalo cultiva a noção de cor.

Eu adoro cores, embora quem olhe para mim, não diga (risos). Se tivermos em loja tudo castanho ou preto, perdemos muito em termos de concentração, e mesmo que não se venda aquele modelo amarelo, ajuda a escoar os restantes. É engraçado que muitas vezes as pessoas pegam nos óculos vermelhos e perguntam se não temos em preto. E o preto está mesmo ao lado (risos). O primeiro instinto é pegar “na cor”.

São observações que o Gonçalo vai fazendo in loco, ou recolhe de outros locais?

Faço in loco mas também estudo outros mercados. Há pouco tempo encontrei um estudo feito em 2025 em França, em que me revejo perfeitamente. A questão central era no primeiro foco do cliente quando entra na loja. É o ótico (isto é algo que defendo há muito tempo)! Em segundo lugar vem o design dos óculos, só em quinto aparece o preço e em sétimo a marca. Eu sempre defendi que a marca da ótica deve ser a mais importante. O dia que uma marca de óculos supere a Óptica Franco, fecho portas, porque estou a fazer um mau trabalho! As pessoas que nos procuram sabem que encontram um atendimento diferenciado, marcas distintas. Aliás, 90 por cento das marcas que vendemos não são conhecidas pelo consumidor final e, por isso, temos mesmo que investir no trabalho junto do cliente. Os nossos óculos não têm branding nas hastes, são clean, mas não é por isso que não deixam de ficar bem. Aliás, a moda é o que nos fica bem. Claro que, as grandes marcas têm um peso enorme na mente dos compradores. Aliás, 80 por cento do mercado compõe-se de marcas dos grupos. Eu é que sou tolo (risos)! Em conversa com outros colegas de profissão e vendedores até me sinto fora da área, mas sempre optei pelos caminhos mais difíceis.

O retalho físico ainda está no topo para os consumidores da ótica.

Sim, e não sei como será o futuro, porque tudo se desenvolve tão rápido, mas talvez se instale o paradigma das impressoras 3D nas lojas. Para já, ainda persistem como uma ferramenta de fabrico de óculos S.O.S, que substituem os que os clientes partiram, enquanto estão para arranjar. Quando esta solução tiver mais qualidade, como gestão de stocks e na relação custo/benefício, não sei se não será uma opção de venda apelativa para os profissionais. Ou seja, o cliente entra na loja, olha para um ecrã, escolhe o modelo e a cor ideais e pronto. A máquina é um grande investimento, mas as matérias são acessíveis. Não será o grosso da venda, mas algumas marcas apostadas nesta área irão ficar abaladas.

Que futuro auspicia para a optica?

Acredito que o futuro passe mesmo pela redução de stocks, porque compramos e não sabemos se vamos vender. As impressões 3D vão entrar em força, assim que esse material se torne mais competitivo. Criar óculos na medida das necessidades seria ideal. Há também desenvolvimentos na área das lentes oftálmicas neste âmbito. Claro que, para quem, como eu, aposta nas marcas independentes, há a liberdade de comprar a quantidade que queremos e ainda participar da discussão criativa, porque o dinamismo destas marcas é diferente, há essa abertura.

E como é que um “quase engenheiro” se apaixona pela ótica?

Iniciei, de facto, a Engenharia Mecânica, mas cheguei ao último ano e disse ao meu pai que aquilo não tinha nada a ver comigo. Adoro automóveis e achei que seria algo mais prático, mas era muito focado na eletrónica e com muita programação. O meu pai convidou-me, à semelhança dos meus irmão, a vir para a loja. “Convido-te, embora não precise de ti para nada”, disse-me (risos). E foi assim que integrei a Óptica Franco. Aos poucos conquistei o meu lugar e hoje acredito que o meu pai esteja orgulhoso do trabalho que faço e da postura que tenho. Deu-me na altura uma das suas sebentas da universidade, onde dava aulas, e garantiu que só ia para o balcão quando soubesse tudo o que estava lá escrito.

Que sonhos tem para a ótica?

Que seja acreditada para aumentar a confiança no setor em geral.

 

Entrevista completa na Millioneyes 143