Clínica do Olho. Hospital Guido Valadares. Díli, Tímor-Leste.
Às 8h da manhã começam os registos no secretariado. A partir das 9h iniciam as consultas. É assim todos os dias úteis nesta unidade dedicada à oftalmologia e optometria. A única na capital. E no país! Em Julho, visitámos este serviço e fazemos aqui o retrato visual, pelas palavras da jornalista Marlene Maia e nas imagens da fotógrafa Paula Silva.
Virgílio da Costa Pinto – Dr. Gil como é conhecido no hospital – é o responsável pela Clínica do Olho. Optometrista, começou a carreira como enfermeiro de oftalmologia e tem dedicado a sua vida a este projeto. Lembra-se que iniciou funções em 2004, quando a unidade funcionava ainda integrada no hospital, tendo, em 2011, passado para este serviço autónomo, verdadeiramente exemplar naquela meia ilha asiática. as pessoas e colocassem anúncios nas televisões e nas rádios, por exemplo, ou mesmo em campanhas locais de sensibilização nas Sedes de Suco (o equivalente às Juntas de Freguesia). Somos sobretudo procurados por idosos, quando já começam a ter problemas graves de visão. Talvez se viessem mais cedo, poderíamos atuar melhor e prevenir o progresso das doenças e da degradação da visão”, reforça o profissional. Aquando da passagem das nossas repórteres pelo hospital, no entanto, foram vistos pacientes de todas as idades – inclusive recém-nascidos -, já que era dia de consulta pediátrica. A clínica tem três gabinetes de rastreio de optometria e cinco de oftalmologia, nos quais trabalham três médicos (formados, respetivamente, no Nepal, Ilhas Fiji e Austrália), quatro técnicos de refração e um ortoptista (oriundo de Cabo Verde). A unidade hospitalar tem ainda bloco operatório, em que são realizadas cirurgias às cataratas, e intervenções em casos de glaucoma, pterígio ou casos urgentes. Na clínica está integrada uma loja de ótica, que é gerida por uma Organização Não Governamental, chamada Fo Naromam Timor- -Leste, que em tétum significa “dar visão a Timor- Leste”.
São disponibilizados óculos a quem tiverem sido prescritos, na sequência da passagem pela consulta de optometria. Nas vitrines estão “prontos” óculos de vários modelos e graduações. No caso de necessidade de lentes bifocais ou progressivas, as mesmas são encomendadas “à medida” na Indonésia e montadas ali mesmo, na oficina ótica do hospital. Na cidade de Díli há três óticas de iniciativa privada, visitadas maioritariamente por estrangeiros e por indivíduos de classes sociais mais favorecidas. Há que referir que na Clínica do Olho os timorenses não pagam por qualquer ato. Os estrangeiros pagam o equivalente a 20 euros por consulta e todos desembolsam um valor muito baixo caso necessitem de adquirir óculos. Começa a haver no país cada vez mais consciencialização de que a saúde ocular é imprescindível ao bem-estar das populações. A Universidade Nacional de Timor-Leste tem recentemente uma pós-graduação em Oftalmologia, em que estão Em todo o território timorense existe apenas mais um optometrista: está colocado no Hospital de Baucau, a segunda cidade do país, sensivelmente a duas horas da capital. “As pessoas ainda não sabem bem o que é a optometria, ou sequer a diferenciam da oftalmologia”, explica-nos o Dr. Gil. “Aliás, nem compreendem a importância da saúde ocular”, aprofunda.
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