O presidente do Grupo GCI, que inclui a consultora de comunicação com o mesmo nome, concedeu-nos uma visão avançada sobre a abordagem das marcas nesta nova realidade que nos apanhou repentinamente. Jornalista, comunicador de excelência e com uma visão tão pragmática quanto positiva e delineada numa prosa bem construída, Bruno Batista e a sua equipa começaram a desenhar o novo panorama de comunicação e negócios entre empresas e compradores mal confinaram em março de 2020. Para além do conceito de sucesso Virtual Arena, o Grupo GCI tem ainda projetos que encurtam distâncias e valorizam as relações, mesmo que através da web. O futuro, esse, tem a luz dos ecrãs como pano de fundo, inevitavelmente, mas de forma renovada e apelativa. Aqui ficam as valiosas palavras de Bruno Batista, na primeira pessoa.
O setor da ótica hoje tem que “correr” para acompanhar as novas tendências impostas pela pandemia. Que recomendações disponibilizaria para que abram caminho neste florescente mundo digital?
Nenhum setor estava preparado para a situação que estamos a viver, e o setor da ótica ou da comunicação não são exceções. Contudo, sabemos que, de acordo com o Observatório de Tendências, a pandemia impulsionou em 57 por cento o e-commerce em Portugal. Ainda de acordo com este Observatório é possível antecipar-se a manutenção da tendência de crescimento do comércio online – 66 por cento dos inquiridos consideram realizar compras de forma mista no futuro, alternando entre os canais digitais e os espaços físicos. Com a predisposição para a compra online a ser uma realidade (apenas 16 por cento dos inquiridos considera voltar às lojas físicas como fonte principal de compra) haverá forçosamente a necessidade de o setor da ótica também marcar presença. Ou melhor reforçar a sua presença, pois hoje já é possível comprar lentes de contacto ou óculos de sol online. O setor da ótica a retalho terá sempre uma abordagem mista, sendo que a diferenciação estará na forma como se cativa o cliente no online e se recebe depois na loja física, no contacto, no acarinhar do cliente ao longo do tempo.
Que futuro antecipa para a comunicação das marcas?
Para chegarmos a essa resposta temos de fazer antes outra pergunta: Que futuro antecipamos para as marcas? Sempre que o mercado está em crise entramos num desafio que coloca todos à prova. Nas atuais condições e organograma da sociedade de informação global, o mercado é cada vez mais uma soma de nichos, de tribos, que deixaram de estar divididas por estratos sociais, etários ou de localização. Não existem, e ainda bem, diferenças entre consumidor do litoral ou do interior. Uma marca consegue ser global, com pouco esforço, e satisfazer o seu consumidor em Évora ou Brooklyn, fazer chegar o produto com a mesma experiência, e os dois sentirem o mesmo magnetismo por ela. O que define hoje uma marca, e o que a torna única, é o seu propósito. Mais do que a proposta de valor dos seus produtos, ou a promessa ao consumidor, é a essência da sua existência que a caracteriza. O ADN de cada marca e a mutação necessária ao longo do tempo para acompanhar a evolução é o que alimenta estratégias de gestores e consultores. Ou seja, cada marca tem de viver no mundo do seu consumidor, e encontrar os mesmos propósitos. Quanto maior esta afinidade, maior a proximidade e fidelidade recebida em todos os momentos. Hoje, não basta partilhar os valores da marca, o desafio é fazer parte da realidade, trazer pessoas e sentimentos que encontramos na rua para as marcas. O tempo do mundo encantado na publicidade acabou, o consumidor quer sonhos reais, quer sentir que faz parte daquele universo. Hoje, os consumidores é que fazem a comunicação das suas marcas, todos os dias, nas redes sociais, no caminho de casa, nos jantares com amigos. Somos todos influencers, cada vez mais.
Entrevista completa na Millioneyes 97