Andreia Marques e Pedro Pereira: a memória dentro de uma ótica

Ter uma loja de sonho num palácio parece uma história de ficção, no entanto, é a realidade dos ousados Andreia Marques e Pedro Pereira. A Ótica O Palácio nasce do casamento entre uma ótica jovial e comunicadora por excelência com 20 anos de experiência e um empreendedor astuto e ambicioso que se revê na vertente mais luxuosa do sector. Nós não descansámos enquanto não confirmamos em pessoa este “mito” e, de facto, chegados a Braga, em pleno Largo da Senhora-a-Branca, apareceu-nos um edifício saído da história da cidade e que agora integra também os anais da ótica mundial.

Mantendo a fachada original, integrando detalhes requintados para sobressair alguns dos óculos mais incríveis do mundo, com a beleza fria dos recortes da pedra e o calor de um espaço feito com paixão, a Ótica O Palácio tirou-nos o fôlego. Em cima de tudo isto, à entrada tivemos o sorriso e o carinho de quem fundeou os alicerces deste sonho. Andreia tem o dom da eterna juventude e uma capacidade para nos manter absorvidos pela sua voz, a sua presença e uma simpatia magnética. É o rosto, a voz e o abraço desta casa bracarense. Já a figura do seu sócio e companheiro de vida, Pedro, acerca-se em silêncio, porém, com “dois dedos de conversa” deslinda-se um homem caloroso, que calcula negócios e a vida com o poder da matemática, mas também com um humor desarmante.

A Ótica O Palácio está assim desenhada pela personalidade destes empresários que viram em Braga a lacuna grave da falta de oferta para os consumidores altamente exigentes e informados da terra. Enquanto ouvimos o percurso deste projeto maravilhoso através da energia de Andreia, fazemos uma viagem a um passado que relembra um edifício construído no século XIX, por uma família rica regressada do Brasil. O Palacete Matos Graça ou Rocha Vellozo, hoje mais conhecido por Palácio da Senhora a Branca, sofreu um atentado há cerca de 20 anos ao ser quase na íntegra destruído para construção de um conjunto de apartamentos. Valeu a este património cultural e histórico um grupo de pessoas que impediram o processo. Salvou-se a imponente fachada norte, toda na sua altivez original, depois de ter estado ao serviço da cidade como centro de saúde. Ou seja, é ponto assente na memória de tantos bracarenses e, claro, de Andreia em particular. No primeiro dia que cruzou as portas fechadas há duas décadas para começar a construir o seu sonho, Andreia sentiu de novo o cheiro e as mãos dos avós, com quem entrou ali tantas vezes. Portanto, a Ótica O Palácio é a porta das memórias para tantas pessoas, um reduto intimista de venda de óculos e um prazer para os olhos. Andreia e Pedro fizeram ainda questão de erigir a ótica sem alterar a narrativa destas paredes e, inclusive, o pais artista de Andreia completou a obra com o seu dom de trabalhar a madeira, reconstruindo peças que haviam desaparecido, segundo as linhas traçadas naquele final do século XIX.

À medida que a nossa viagem chegou ao fim, quisemos saber quem são estas duas pessoas incríveis fora das fronteiras do seu palácio. O silêncio revelou que a ótica e o presente projeto preenchem grande parte do interior dos dois, numa construção que justifica os respetivos percursos. Isso e o filho que Pedro confessa mimar com tudo o que lhe foi privado numa vida dura e lutadora, longe do apoio direto dos pais emigrantes. Já Andreia, criada entre artistas e sonhadores tem aqui a resolução da sua vida e abraça-a com a energia que lhe é natural. Uma coisa é certa: esta Ótica O Palácio escreve um novo capítulo para o design e decoração de óticas no mundo e está no mercado para ficar!

Qual o caminho que vos levou a estabelecer a ótica num palácio?

Andreia Marques Já estávamos à procura de um espaço há uns meses, em Braga, e o que aparecia era “mais do mesmo” e nada nos inspirava. Os locais que vimos serviriam, no máximo, para abrirmos uma ótica igual às outras.

E quanto às limitações da obra? Como geriram o facto de construir em património histórico?

PP Encontrámos muitas limitações, principalmente ao nível da fachada que tivemos que a manter na íntegra. Colocar reclames, só um muito minimalista na frente. Claro que arranjámos alternativas estratégicas (risos). E o impacto maior da ótica é mesmo à noite. Quem desce a rua em frente ao palácio, que é das que tem mais trânsito em Braga, depara-se com um espetáculo de luz. Por tudo isto, já recebemos mensagens de várias pessoas envolvidas na ótica internacional e nacional a elogiar a nossa ótica. É única!

E o Palácio não condiciona o vosso trabalho e o tipo de consumidor que vos procura?

AM Sim, condiciona e na altura que embarcámos nesta aventura não pensámos logo nisso, mas hoje e mediante as pessoas que nos entram pela porta, estamos muito contentes que assim seja. Aliás, começámos com determinadas marcas, com as quais eu já estava habituada a trabalhar, que eram exclusivas, mas ainda assim de massa, e os clientes que nos entram pela porta demonstraram que não querem isso.

PP Claro que, notámos também que as pessoas tinham receio de entrar no início. Mas essa tendência foi-se invertendo graças ao passa palavra.

AM E sabendo que sou eu que aqui estou, já vêm com menos receios. (risos)

PP Sim mas quem não nos conhece, vem já à procura de produtos diferenciados. E, por isso, ao longo do nosso percurso vamos afinando as marcas à medida destas exigências.